Em Escada, um grupo de nove famílias
inter-relacionadas dominava a oligarquia proprietária. A mais proeminente
família de Escada, os Lins, descendia de João Marques de Melo e Manoela da Costa
Leitão, imigrantes portugueses que chegaram ao Brasil no início do século
XVIII. O filho deste patriarca, José Filipe Marques casado com Ana Rosa Lins,
conseguira terras em Sirinhaém em 1812 e, dez anos depois, Henrique Marques
Lins, seu filho, recebeu uma sesmaria – concessão oficial, embora ilegal à
época – de uma légua quadrada de terras junto à plantação de seu pai. Em 1841,
com a renda desta propriedade Henrique Lins adquiriu o engenho Conceição, em
Escada, e também mais terras sobre as quais construiu o engenho Matapiruma, que
começou a operar em 1842.
Durante os últimos quarenta anos do
século, Henrique Marques Lins agraciado com o título de Barão e depois com o de
Visconde de Utinga, juntamente com seus nove filhos e noras possuía, pelo
menos, 30 engenhos localizados em Escada. Entre 1877 e 1881, Henrique Marques
de Holanda Cavalcanti, seu neto, que viria a ser, posteriormente, o barão de
Suassuna, construiu as modernas usinas Mameluco e Limoeirinho. Marcionilo da
Silveira Lins, um de seus filhos, em 1855, inaugurou a usina de Massauassu.
Na ordem do número de plantações vinha a
seguir a família Pontual, com seu filho José Manoel Júnior e vários primos e
parentes por afinidade. Os Pontual possuíam 17 engenhos e um sítio em Escada;
construíram as usinas Aripibu e Cabeça de Negro em 1888, e as usinas Bosque e
Mussu na década de 1890. A família Santos, liderada pelos patriarcas José
Rodrigues de Senna Santos e João Félix dos Santos, era proprietária de 16
engenhos, ao fim da monarquia, enquanto o clã dos Velloso da Silveira, de José
Pedro Velloso da Silveira e seus fílhos, Eustáquio e Cincinato, possuia 12 engenhos e um sítio. José Pereira
de Araújo e André Dias de Araújo, mais tarde barão de Jundiá, eram proprietários
de 11 plantações, tendo José Pereira construído a usina Bamburral em 1888.
Manoel Antônio Dias e seus filhos José Cláudio e Manoel Antônio dos Santos Dias
tinham nove engenhos; em 1889 Santos Dias construiu a usina Santa Philonila e
em 1895 começou a operar com a usina Bom Fim. José Antônio Barros e Silva e seu
irmão Francisco Antônio, depois barão de Pirangy, também possuíam nove
engenhos. Finalmente, as famílias Alves da Silva e Siqueira Cavalcanti tinham
cinco engenhos cada uma.
Este total de 114 engenhos em nove
famílias significa que cada uma possuía certo engenho durante o período, não
necessariamente que foram sempre proprietários de todos, A soma, pois,
compreende repetições de propriedades transferidas dentro do grupo e não exclui
transferência de propriedades a agricultores estranhos à oligarquia. Além
disso, muitas famílias tinham propriedades fora de Escada, que ampliava sua
influência e podem ter alterado sua posição pelo total do número de
propriedades. A despeito de tais reservas, entretanto, num município com
aproximadamente 120 engenhos a oligarquia, indiscutivelmente, possuía a grande
maioria e construiu todas as usinas modernas.
A oligarquia açucareira de Escada
protegia e ampliava seu poder mediante o controle da política local. Os
cultivadores de cana dominavam os ramos administrativo e judiciário do governo
local e dispunham de representação no legislativo estadual. Em 1861, na Câmara
Municipal de Escada – dos sete membros – figuravam Henrique Marques Lins e seu
filho Belmiro da Silveira Lins, futuro Barão de Escada. Em 1881, na Câmara
Municipal – de nove vereadores – havia três homens com sete engenhos e, em
1893, o prefeito era proprietário de cinco engenhos, e cinco conselheiros, ou
seus filhos, possuíam 14 engenhos.
O delegado de polícia e seus agentes,
com a assistência dos juízes, mantinham a lei e a ordem e distribuíam justiça.
Em Escada, o delegado que serviu no início do decênio de 1860 era o genro de
Henrique Marques Lins – Antônio Marques de Holanda Cavalcanti – assistido pelos
subdelegados Francisco Antônio de Barros e Silva e João da Rocha Holanda
Cavalcanti, o primeiro era genro de Henrique Marques Lins e o segundo,
provavelmente, irmão do delegado. Na década de 1880, o delegado de polícia
Samuel dos Santos Pontual e três subdelegados possuíam um total de 13 engenhos de açúcar.
Os juízes municipais e distritais de
Escada, durante esses anos, não eram plantadores locais, embora ocasionalmente
proviessem das famílias açucareiras dos municípios vizinhos. Na década de 1880
dois dos três substitutos de juiz municipal eram um Araújo e um Santos Pontual,
que somavam 11 engenhos de açúcar. Os juízes de paz, entretanto, eram quase
exclusivamente senhores de engenho. Dos 17 juízes de paz, do início do decênio
de 1860, 12 eram senhores de engenho que somavam 19 plantações; no decênio de
1880, 12 dos 16 juízes de paz eram donos de engenho ou filhos destes, com o
total de 18 engenhos.
Os batalhões da Guarda Nacional de
Escada constituíam uma força adicional de controle social: esta guarda era,
também, a fonte dos títulos de “coronel”, “major” e “capitão”, tão
orgulhosamente usados pelos plantadores de cana. Na década de 1860, o
tenente-coronel Henrique Marques Lins comandava o 24º batalhão e o
tenente-coronel Manoel Gonçalves Pereira Lima, proprietário de dois engenhos,
comandava o 25º batalhão. Entre os quinze capitães de companhia destes
batalhões compreendiam oito proprietários de plantações de cana, com um total
de 16 engenhos. Na década de 1870, todos os 16 capitães de companhia eram
proprietários de engenhos de açúcar: e, na de 1880, o coronel André Dias de
Araújo comandou a Guarda Nacional e o tenente-coronel Antônio dos Santos
Pontual e o coronel José Pereira de Araújo comandavam batalhões.
A nível estadual e provincial de governo
os oligarcas do açúcar de Escada partilhavam Assembléia o poder com os
representantes de elites semelhantes. Vários senhores de engenhos de Escada
exerceram mandatos de dois anos na Assembléia Provincial, de 36 membros: João
Francisco de Arruda Falcão e José Pedro Velloso da Silveira em 1851, o primeiro
e Samuel dos Santos Pontual em 1961 e 1867, respectivamente, o último em 1877,
Francisco Dias de Arruda Falcão em 1881 e 1883, André Dias de Araújo em 1885,
Davino dos Santos Pontual em 1887. Na república, Davino dos Santos Pontual
participou da Assembléia Constituinte, Luís Caldas Lins integrou o primeiro
Legislativo Estadual de 1982-94, e João Alves Pontual foi eleito para o
Legislativo do Estado de 1904 a 1912. Os cultivadores de cana de açúcar de
outros municípios também aparecem freqüentemente nas listas de deputados
provinciais e estaduais.
Autoridades da Freguesia de Escada em
1860
Juiz Municipal – Dr. Leopoldino Delfino
de Abreu Suplentes:
1º - Antônio Marques de Holanda
Cavalcanti – (Eng. Barra de Matapiruma, Diamante, Taquara, Uruçu).
2º - Manuel Gonçalves Pereira Lima –
(Eng. Vicente Campelo)
3º - André Dias de Araújo – (Eng.
Noruega)
4º - José Rodrigues de Sena Santos – (Eng.
Frexeiras, Mussu, Refresco)
5º - José Leão Pereira de Melo
6º - José Pereira de Araújo – (Eng.
Ajudante, Cosme, Maravilha, Viola)
Juízes de Paz:
Primeiro Distrito:
1º - Manuel Olímpio de Barros Costa
2º - José Sancho Bezerra Cavalcanti –(
Eng. Alegria e Criméia )
3º - Manuel da Silva Caldas
4º - Romão Pópulo de Andrade Lima
Segundo Distrito:
1º - Manoel Antônio dos Santos Dias –
(Eng. Jundiá, Jundiá-Mirim, Recreio e Serra Nova )
2º - Emílio Cavalcanti Lins
3º - Manoel Rodrigues da Silva Carneiro
– (Eng. Dois Braços de Cima e Dois Braços do Meio)
4º - Antônio Joaquim Alves Barros
Terceiro Distrito:
1º - Leocádio Alves Pontual
2º - Fábio Veloso Freire
3º - Sérgio Higino Dias dos Santos
4º - Ernesto Gonçalves Pereira Lima
Quarto Distrito:
1º - Francisco da Rocha Pontual
2º - Manuel Barbosa de Farias
3º - Florentino José de Melo
4º - Bernardino Olindino da S. Lisboa
Delegado: Antônio Marques de Holanda
Cavalcanti
Suplentes:
1º - Francisco Antônio de Barros e Silva
2º - Salvador dos Santos Martins
Cavalcanti
3º - Roque Ferreira da Costa
4º - Cândido José Marques de Miranda
Sub-delegado do 1º distrito:
José da Rocha Holanda Cavalcanti
Suplentes:
1º - Manoel da Rocha Lins – Cap. Da
Guarda Nacional
2º - Maurício Veloso da Silveira
Cavalcanti
3º - Joaquim Cavalcanti Ribeiro de
Lacerda – Tenente da Guarda Nacional
4º - Manoel Rodrigues da Silva Câmara
5º - Idelfonso Manoel Guedes dos Santos
– Capitão da Guarda Nacional
6º - Tomás Rodrigues Pereira
Sub-delegado do 2º distrito: Francisco
Antônio de Barros e Silva
Suplentes:
1º - Belarmino Veloso da Silveira Lins –
Capitão Da Guarda Nacional
2º - Teodoro da Silva Lins
3º - Ageu Duarte Veloso Freire – Tenente
da Guarda Nacional
4º - José Leão Pereira de Melo 5º -
Francisco Veloso da Silveira
6º - Antônio Gomes de Barros e Silva – Tenente
da Guarda Nacional