BELMIRO DA SILVEIRA LINS |
Belmiro da Silveira Lins nasceu em 1827
na freguesia da Escada. Era filho de Henrique Marques Lins e de Antônia
Francisca Veloso da Silveira, os primeiros barões e viscondes de Utinga. Veio
de uma família de 14 filhos. Eram seus irmãos: Cordolina Marques Lins (casada
com Francisco Mamede de Almeida), Henrique Marques Lins, Benemérita Marques
Lins, Pânfila Marques Lina (casada com Antônio Marques de Holanda Cavalcanti),
Rogaciano Marques Lins, Macionilo da Silveira Lins (casado com Carolina de
Caldas Lins), Teudelina da Silveira Lins, Teudelina da Silveira Lins (2ª)
(casada com Francisco Caldas Lins, barão de Araçagy), Florismundo Marques Lins
(falecido pequeno), Florismundo Marques Lins (2º) “2º barão de Utinga” (casado
com sua prima Teudelina de Barros e Silva e depois com Ana Wanderley Lins),
Antônia Marques Lins (casada com Dr. Ambrósio Machado da Cunha Cavalcanti) e Henriqueta
da Silveira Lins (casada com Manoel Cavalcanti de Albuquerque).
Belmiro da Silveira foi eleito vereador da
vila da Escada na eleição de 1860. Foi um dos sócios fundadores da Sociedade
Auxiliadora da Agricultura de Pernambuco em 1872. Era tenente-coronel da guarda
nacional, proprietário dos engenhos Conceição, Limoeiro e outros. Pertencia ao
partido conservador e era uma dos líderes na freguesia da Escada. Foi o primeiro
e único barão de Escada, título concedido por decreto imperial do dia 9 de
setembro de 1874. O título fazia referência à cidade pernambucana de Escada, de
onde sua família paterna era natural.
Casou-se com Maria de Sousa e teve duas
filhas. Maria Lins Cavalcanti (casada com Henrique Marques de Holanda
Cavalcanti, barão de Suassuna) e Antônia Lins Cavalcanti (casada com Antônio
Lins Correia de Araújo).
No dia 27 de junho, partiu o Dr. Ambrósio
Machado do engenho Arandu de Baixo com os seus eleitores, disposto a realizar
uma passeata na cidade da Vitória, juntamente com outros grupos de oposição que
para lá deviam convergir de vários pontos do município. Acompanhavam-no os seus
cunhados Henrique Marques Lins, Marcionilo da Silveira Lins, o capitão Florismundo
da Silveira Lins e Belmiro da Silveira Lins, Barão da Escada, solidários em
tudo e dispostos a defendê-lo em qualquer emergência.
No engenho Pedreiras, incorporaram-se à
comitiva o major Manoel Cavalcanti de Albuquerque Sá, chefe do Partido
Conservador e João de Sá Cavalcanti Lins, com os seus amigos. Grande parte dos
caravaneiros vinha a cavalo, portanto flores e ramos de cróton verde-amarelo,
cores nacionais, cornetas e duas bandeiras imperiais.
Na entrada da cidade, no subúrbio de
Jenipapo, esperavam a comitiva os amigos e correligionários residentes na
cidade, com Banda de Música, tendo à frente o coronel José Cavalcanti de
Azevedo Ferraz, eminente prócer do partido conservador. Ás 16 horas a comitiva
seguiu em direção ao Pátio da Matriz, entrando pela travessa situada no oitão
direito desta, vulgarmente conhecida como o Beco do Rosário.
A posição exata dos liberais “Leões” e
de suas forças era a seguinte: Na calçada da Igreja do Rosário, à porta central
do templo, se encontravam o Dr. Nicolau Rodrigues da Cunha Lima e o Capitão
Ursulino Torreão, com alguns soldados; nas varandas internas da nave central e
nas varandas e janelas externas, praças entrincheirados, defronte e ao lado
esquerdo da igreja, três linhas de paisanos armados, sob as ordens de chefes
políticos governistas. Ao defrontarem o templo, “vivas” foram erguidos pelos
caravaneiros, postando-se os cavaleiros na praça enquanto o grosso dos peões ia
chegando.
Dr. Ambrósio desce do cavalo e dirige-se
ao delegado Torreão, reclamando o procedimento ilegal, ao mesmo tempo em que o
barão da Escada, montado, discutia com o Dr. Nicolau Rodrigues. Ouvem-se dois
disparos e cai o barão fulminado, abaixo do seu cavalo. O Dr. Ambrósio é
atingido por dois tiros e, nas costas, uma punhalada, sendo retirado do local,
nos braços de amigos. Vem a reação desesperada da multidão procurando
apoderar-se da igreja, mas sendo objeto da fuzilaria despejada das seteiras
abertas no templo. Generaliza-se a peleja, desvantajosa para os oposicionistas
que, acotovelados diante do templo, eram alvejados de cima e pelos flancos, mas
não corriam da luta, conseguindo, afinal, depois de séria luta, entrar no
templo.
Sendo elevado o número de mortos e
feridos e correndo a notícia de que outros contingentes da oposição se dirigiam
para a praça, já ao anoitecer foram os combatentes governistas abandonando suas
posições e buscando, na fuga, a impunidade de seu crime e a segurança da própria
vida.
Cessado o tiroteio, dezesseis cadáveres
jaziam dentro da Matriz e em suas cercanias e dezenas de feridos eram
socorridos. Entre os mortos contavam-se o Barão da Escada, os irmãos José e Pedro
Leito dos Santos, José Pedro de Oliveira, Pedro Cavalcanti de Albuquerque Sá (conhecido
por Pedro Lins, irmão do Major Lins), Alexandre Rodrigues de Luna, todos estas
figuras de evidência nas hostes oposicionistas. Não morreu, nem saiu gravemente
ferida uma só pessoa de destaque da ala dos liberais governistas.
O Dr. Nicolau refugiou-se nos fundos de
uma casa vizinha ao templo, donde, altas horas da noite, conseguiu sair e,
trocando o nome, fugiu para a província das Minas Gerais, onde viveu, disfarçado,
até a prescrição do crime.
O tenente Cristóvão Álvares dos Prazeres
escondeu-se na casa do Dr. José Felipe de Souza Leão, presidente do Tribunal,
no Recife, mas, tendo saído para receber curativo em ferimento, foi preso numa
farmácia e recolhido à Casa de Detenção, donde conseguiu fugir.
No dia 28 de junho, assumia o governo da
província Dr. Franklin Távora, o novo presidente, que já havia sido nomeado
antes dos acontecimentos. Tremenda foi a revolta, dentro e fora da província,
não só dos políticos oposicionistas, como do próprio povo.
Instaurado o processo, foram
pronunciados o Dr. Nicolau Rodrigues da Cunha Lima; os tenentes-coronéis,
Francisco José Álvares e Lídio Álvares dos Prazeres; os tenentes José Francisco
Pedrozo de Carvalho, Izidoro Lourenço Bezerra e Cristóvão Álvares dos Prazeres,
os capitães Joaquim Francisco Wanderley, Ursulino da Cunha Torreão e Antônio de
Paula Cavalcanti de Almeida; e Capitulino Gomes Ferreira, José Olavo Wanderley,
Manoel Mendes, Antônio Severino das Mercês, José Pereira, Rosendo José da Silva
Rosas, José Tavares de Lima, Francisco Olho Azul, Antônio de Mendonça Cabral,
Antônio Severino das Mercês Protto, todos como incursos nas sanções dos artigos
192 e 205 do código penal; e ainda Ildefonso Álvares dos Prazeres e Amaro da
Costa Soares.
Dos que foram submetidos a julgamento
pelo Tribunal do Júri, em datas diferentes, apenas o Cabo Amaro da Costa Soares
foi condenado a galés perpétuas. Os demais foram absolvidos, tendo havido
apelações, que não tiveram provimento.
E esse trágico acontecimento foi chamado
de hecatombe da Vitória, ocorrida a 27 de junho de 1880, na igreja de Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos, então servindo de Matriz da freguesia de Santo
Antão da Vitória (a matriz atual achava-se em construção). As imagens atingidas
pela mortandade estão em exposição permanente, no museu do Instituto Histórico
e Geográfico da Vitória.
O corpo do barão foi trazido para o Recife, sendo velado na matriz da Boa Vista e, de lá, conduzido ao cemitério de Santo Amaro, pelas principais ruas da cidade por uma grande multidão.
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